08 de janeiro – Ano 201 d.v.C.
“Não sei quanto tempo se passou desde que estou aqui; noites e dias tornaram-se iguais. Eu vagava entre pesadelos e perdição quando minha mente foi trazida à tona, de volta à realidade. Desperto sufocado para encontrar meu raptor me aguardando. A criança está sentada sobre o meu peito, roubando-me o oxigênio e encarando-me com olhos negros e profundos. Tenho um momento de terror ao encontrá-lo tão próximo de mim. Seu corpo é gelado. Tão gelado quanto os corpos que o vi carregando em meus sonhos, deixando-os do lado de fora desse lugar, para que fossem enterrados.
Os insetos que estavam sobre mim correm em direção ao menino despido, indo em direção às suas vergonhas, dando boas-vindas por sua presença. Inúmeras formas negras entram e saem rapidamente de seu nariz, de sua boca sorridente e de sua virilha.
_ Tu tens os olhos de um cervo... – ele me diz, indolente, acariciando-me o rosto com os dedos de marfim. É uma criança o que vejo, mas a voz com que fala é tão velha, tão maligna, que não poderia estar vindo de uma criança. De qualquer modo, é a voz de alguém que conheceu degradações inimagináveis. A voz de um demônio. Eu só consigo gemer, terrificado ao pensar em como meu torturador poderia arrancar-me os olhos com aqueles pequenos e gélidos dedos.
_ Olhos de cervo... – a criança meditava, enquanto retirava uma agulha, enfiada em uma meada de seda ao meu lado.
_ O mesmo olhar arregalado de uma besta do campo. Isso te rotula como inconsciente, inocente, ainda sem preparo para compreender. Isso te indica como uma presa.
Ele enfiou a agulha em sua própria mão, transpassando-a de lado a lado. Sem parar, beliscou uma dobra em minha barriga com uma pequena prega e deslizou a agulha por ela, provocando-me lamúrias de dor e medo.
_ Eu posso ver seus pensamentos através d’estes olhos, Mateo. – a besta continuava, prendendo-me completamente com o olhar. Não conseguia tirar os olhos dos dele; não conseguia... Vagarosamente, o menino costurava minha pele, bordando-a com padrões antiqüíssimos. Já não sabia o que pensar. Não conseguia saber sequer se iria morrer. Talvez ele fosse algum tipo de louco, ou um demônio com desejos mórbidos. Impossível, mesmo para o mais espertos e psicóticos dos loucos psicopatas, ler a mente de suas vítimas com tamanha perícia. Além de quê, tudo ali parecia seguir um padrão, uma ordem. Minha dor não era gratuita; ela parecia ter realmente um propósito.
_ Eu posso ver teus medos. Oh, não se preocupe! Eu não vou arrancar teus olhos agora. Eles serão necessários depois.
Cada ferida se fechava segundos depois da passagem da agulha, a linha pingava seu sangue vermelho, misturando-se ao meu. E eu continuei tentando gritar até que nenhum outro som saísse de minha boca. Silenciosamente, meu corpo foi destruído.
_ Aqui, - meu sorridente atacante finalmente disse, parando seu trabalho para colocar-me sentado sobre minha própria virilha inchada. Ele empurra uma bola de trapos na minha boca, não preocupado com os gritos que eu há muito já estava incapaz de dar, mas apenas um detalhe mórbido para aumentar meu sofrimento.
_ Morda isso, se tu puderes, e pense sobre o que deseja. Isso vai lhe ajudar a passar o tempo enquanto eu lhe conto o que tu deverias saber sobre apoteoses...”
“Não sei quanto tempo se passou desde que estou aqui; noites e dias tornaram-se iguais. Eu vagava entre pesadelos e perdição quando minha mente foi trazida à tona, de volta à realidade. Desperto sufocado para encontrar meu raptor me aguardando. A criança está sentada sobre o meu peito, roubando-me o oxigênio e encarando-me com olhos negros e profundos. Tenho um momento de terror ao encontrá-lo tão próximo de mim. Seu corpo é gelado. Tão gelado quanto os corpos que o vi carregando em meus sonhos, deixando-os do lado de fora desse lugar, para que fossem enterrados.
Os insetos que estavam sobre mim correm em direção ao menino despido, indo em direção às suas vergonhas, dando boas-vindas por sua presença. Inúmeras formas negras entram e saem rapidamente de seu nariz, de sua boca sorridente e de sua virilha.
_ Tu tens os olhos de um cervo... – ele me diz, indolente, acariciando-me o rosto com os dedos de marfim. É uma criança o que vejo, mas a voz com que fala é tão velha, tão maligna, que não poderia estar vindo de uma criança. De qualquer modo, é a voz de alguém que conheceu degradações inimagináveis. A voz de um demônio. Eu só consigo gemer, terrificado ao pensar em como meu torturador poderia arrancar-me os olhos com aqueles pequenos e gélidos dedos.
_ Olhos de cervo... – a criança meditava, enquanto retirava uma agulha, enfiada em uma meada de seda ao meu lado.
_ O mesmo olhar arregalado de uma besta do campo. Isso te rotula como inconsciente, inocente, ainda sem preparo para compreender. Isso te indica como uma presa.
Ele enfiou a agulha em sua própria mão, transpassando-a de lado a lado. Sem parar, beliscou uma dobra em minha barriga com uma pequena prega e deslizou a agulha por ela, provocando-me lamúrias de dor e medo.
_ Eu posso ver seus pensamentos através d’estes olhos, Mateo. – a besta continuava, prendendo-me completamente com o olhar. Não conseguia tirar os olhos dos dele; não conseguia... Vagarosamente, o menino costurava minha pele, bordando-a com padrões antiqüíssimos. Já não sabia o que pensar. Não conseguia saber sequer se iria morrer. Talvez ele fosse algum tipo de louco, ou um demônio com desejos mórbidos. Impossível, mesmo para o mais espertos e psicóticos dos loucos psicopatas, ler a mente de suas vítimas com tamanha perícia. Além de quê, tudo ali parecia seguir um padrão, uma ordem. Minha dor não era gratuita; ela parecia ter realmente um propósito.
_ Eu posso ver teus medos. Oh, não se preocupe! Eu não vou arrancar teus olhos agora. Eles serão necessários depois.
Cada ferida se fechava segundos depois da passagem da agulha, a linha pingava seu sangue vermelho, misturando-se ao meu. E eu continuei tentando gritar até que nenhum outro som saísse de minha boca. Silenciosamente, meu corpo foi destruído.
_ Aqui, - meu sorridente atacante finalmente disse, parando seu trabalho para colocar-me sentado sobre minha própria virilha inchada. Ele empurra uma bola de trapos na minha boca, não preocupado com os gritos que eu há muito já estava incapaz de dar, mas apenas um detalhe mórbido para aumentar meu sofrimento.
_ Morda isso, se tu puderes, e pense sobre o que deseja. Isso vai lhe ajudar a passar o tempo enquanto eu lhe conto o que tu deverias saber sobre apoteoses...”
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