31 março, 2006

Corpo e Sangue - parte X


Madrugada de 08 de janeiro – Ano 201 d.v.C.
Palazzo Real da Camarilla



Pela primeira vez em tantos séculos de reinado, sinto-me preocupado. Passei pela Renascença até os dias de hoje mantendo o Sabá à distância e isso nunca me foi difícil. Mas agora... Imagino se aqueles dois agem sozinhos. Isso me parece impossível; dois Lasombras apenas... e tanto estrago. Mesmo que sejam da realeza, mesmo que seja o Clã da Coroa, é muita afronta para apenas duas crianças.

Ah... eu estou cansado.

Quando olho minha suntuosa Florença aqui de cima, lembro-me daqueles tempos de glória e arte, em que tudo era feito de sangue e ouro, e as afrontas resolvidas em duelos de espada. E, envolto na noite, meu reino parece repousar tão calmo; mas eu sei que não é assim. Em algum lugar lá embaixo, em alguma viela escura, sei que estão se esgueirando, tramando o próximo ataque. Posso senti-los daqui. Dorian me cobra providências, e com razão. E eu as tomarei; seja por ele, seja por mim mesmo.

....

_ Furtivo como sempre.

_ Vossa Alteza.

Reparo que meu discreto guardião está vestido com os mesmos trajes claros com que se apresentara a mim poucas noites atrás. Caem-lhe muito bem, e realçam a brancura de sua natureza. Também já notara que se dispõe a tirar os óculos em minha presença, e o ato muito me agrada. Gosto do reflexo vermelho de seus olhos. Nunca havia visto uma maldição tão intensa.

Falo-lhe breve e resumidamente sobre os acontecidos da noite, sobre os Elísios e sobre a fúria de Dorian Calabar. Dou-lhe suas ordens e ele apenas me ouve, assentindo em silêncio.

_ E mais uma coisa. Destrua todos os de Sangue Fraco que encontrar. – percebo que a ordem o espanta pela impetuosidade das palavras que, como ele já deve ter notado, não me é característico.

_ Todos, meu senhor? Sem julgamentos?

_ Tenho suspeitas de que essas crianças estejam se aliando em massa ao Sabá. A falta de regras e a ideologia da seita podem seduzir facilmente suas mentes retrógradas. Não quero um motim de proporções incontroláveis. Você tem meu consentimento de vida e de morte sobre os que aparentarem oposição ou desordem. Cace-os.

Com uma reverência controlada, percebo que pretende se retirar. De costas para ele, contudo, dedico-lhe algumas palavras:

_ Seu Mestre o recomendou muito bem, Rowan. Ele deve ter lhe dito que nunca antes precisei dispor do cargo que você ocupa.

_ Meu Príncip...

_ Mas, - disse eu interrompendo-o - devo confessar, sua presença dentro das noites de Florença me conforta.

Pude ver, mesmo entre as sombras, que sua expressão séria e muito contida em nada se alterou. Apenas aqueles dois rubis brilhavam me examinando.

_ É uma honra servi-lo, Alteza.


Raphael Di Melcchio
Príncipe Regente de Florença


Um comentário:

Anônimo disse...

Non seria parte "10" (X)?