08 de janeiro - Ano 2201 Florença - Arredores dos Elísios
O Príncipe de Florença e um jovem loiro, seu Flagelo, seguiam apressados para o teatro que servia de fachada aos Elísios. De repente, o jovem pára e pega na palma da mão uma peça delicadíssima que caíra dos céus. Ele observa-a confuso:
_ Um cristal de gelo...?!
_ Um cristal de gelo em Florença... – responde o Príncipe, visivelmente ficando preocupado.
Os dois se entreolham por um breve instante, quando o número daqueles cristais aumenta rapidamente, e se põem a correr. O Elísio estava próximo e, quando saem da ruela escura em que estavam e dão com a rua aberta e ampla em que se localizava o teatro, o Príncipe estaca com uma expressão de assombro. O jovem loiro compartilha de seu espanto, quando repara, sobre o telhado maior de uma catedral em estilo clássico, na figura imponente de majestosa beleza. Do alto em que estava, uma mulher de porte e longos cabelos acastanhados parecia controlar os ventos e a geada. De braços abertos, ela falava com o Vento do Norte e castigava toda a cidade. O Príncipe sentia os cristais cortarem-lhe o rosto, porém ainda estava boquiaberto com aquela presença.
_ Senhora da Tempestade...! – ele sussurra, os olhos arregalados.
Protegendo o rosto com um braço, o jovem loiro pergunta:
_ Ela é um dos Garous! Sua Alteza a conhece?!? I
gnorando os ventos, Raphael dá os primeiros passos em direção à catedral onde está a Garou. Seus olhos ainda não têm certeza do que vêem:
_ Sempre acreditei que ela não fosse mais do que uma lenda...! Estamos realmente com problemas se não o for...
O jovem loiro fica ainda mais apreensivo, não faz idéia de que seu Monarca pretende aproximando-se daquela maneira descuidada e inoportuna.
_ O que vai fazer!? Vossa Alteza! - ele avança em direção ao Príncipe, determinado a detê-lo. Mas o Príncipe é de longe mais rápido que o jovem e, sem que este seja capaz de perceber seus movimentos, Raphael já se encontrava uma sacada abaixo da grande Garou.
Raphael não era um homem de armas. A espada em sua cintura era um mero ornamento de honraria, suas habilidades de espadachim foram adquiridas por fetiche e capricho. Ela sabia exatamente o que fazer no trono, com o cetro na mão, mas não era nem de longe um guerreiro valoroso. E era exatamente nessas desvantagens que ele pensava enquanto dirigia sua voz para aquela mulher.
_ Senhora dos Ventos! Senhora, senhora líder dos Garous! – a voz do Príncipe sai abafada e é carregada para longe pelos fortes ventos. O manto vermelho, já encharcado e sendo puxado pelos ventos furiosos, faz com que tenha de manter-se firme para assegurar seu equilíbrio. A tempestade torna-se a cada instante mais violenta, mas Eudoxia consegue ouvi-lo e lhe direciona o olhar.
_ Aplaque sua ira, Senhora da Tempestade! Não quero lutar contra você! Leve seus filhotes de volta para as montanhas e eu deterei os meus! Não quebre os séculos de nossa paz! Eu lhe peço!
Eudoxia permaneceu segundo em um silêncio atônito, depois dos quais sua risada completa encheu os ares.
_ Admito sua coragem de líder por vir até aqui interceder pelos seus. Mas suas palavras são uma piada estúpida! Não podem estar falando sério... Ou então é completamente ingênuo! Vocês são uma mácula sobre a face de Gaia. Sua raça merece ser massacrada! Meus filhos merecem ser vingados!
O Príncipe via que sua investida talvez não obtivesse sucesso. Sabia que poderia fazer frente aos Garous se “eles” intervissem, porém, pensava em como resolver aquilo sem que tanto se tornasse necessário.
_ Aqueles que vocês atacam, aqueles que estão sob a minha regência, nada têm a ver com sua perda, posso lhe assegurar isso! O sangue de seus filhos já foi cobrado em sete vezes! Seus filhos já foram vingados!
Um sorriso de escárnio passou pelos lábios da mulher e ela riu com desdém:
_ Palavras de um covarde. É o fim da linha para vocês. Essa é uma batalha que não podem vencer. E, para seu desespero, também já não podem fugir!
Raphael Melcchio sabia que aquelas palavras carregavam a sua verdade. Eles estavam cercados. Mesmo que ele próprio intervisse, mais de 80% de toda a sociedade vampírica seria facilmente eliminada. Eudoxia não cederia por palavras de um vampiro. A aura de apreensão e ansiedade que rondava a figura do Príncipe, então, sumiu simplesmente. As roupas estavam molhadas e pesadas no momento em que ele abaixou a cabeça e fechou os olhos. Quando voltou a erguer o olhar, tinha o porte da coroa e da majestade. O rosto frio de menino era impassível, mas sua voz, autoritária, carregava o som de milênios.
_ Há males maiores que temos que derrotar. Tire seus filhotes daqui. Esse mau é um problema nosso, mas ele se estenderá até vocês. Vão embora agora, para poderem lutar depois. É a minha última palavra.

O azul glacial nos olhos do Príncipe era tão gélido quando aquela geada, e tão impiedoso quanto o coração da própria Eudoxia. Ele também não recuaria. Eudoxia sabia de que mal ele falava; sim, as visões que atormentavam Sarah. A líder chegou a abrir os lábios para uma resposta cínica e honrada, porém, nesse instante, um uivo de terror chamou-lhe a atenção. Sua atenção se voltou para a direção do som e, no telhado do que restava dos Elísios, ela viu um grande lobo castanho. Sarah, sua filha, aquela que herdara o seu dom das visões, havia algo que a perturbava. Seus olhos verdes lupinos pareciam não ter consciência do mundo que os cercavam enquanto a grande loba uivava para a lua vermelha no céu. Eudoxia sondou os pensamentos da sacerdotisa, e a visão que compartilharam era de morte e ruína. Houve um momento de terror no coração gelado de Eudoxia. Havia um grande mau que se aproximava, e que agora ela sabia que isso estava ligado aos Lambedores, como a Matilha suspeitara.
Ela voltou sua atenção ao Príncipe. Na altura em que estava, ela olhou para longe e, pela primeira vez, teve consciência de outras quatro presenças, espalhadas aqui e ali, e uma visão acompanhava cada uma delas. Uma das criaturas tinha uma aura de fogo imensa que não era nem de longe afetada pela geada, enquanto que outra exercia uma atração irresistível; outra tinha uma loucura contagiosa para quem ousasse fitar seus olhos diretamente, e a outra tinha uma presença de forças magistral. Eudoxia teve uma clarividência rápida na qual seus filhos perdiam o senso para uma loucura total; viu o chão se abrir rumo ao grande centro da terra, e seus filhotes se jogarem dentro dele como que encantados pelo fogo que ardia naqueles confins. Viu que seu amado Avicus jogava-se lá também e, em sua visão, ela não fora capaz de detê-lo.
Aqueles eram seres antigos, ela sabia. Talvez, tão antigos quando o mal comum que ela e aquele monarca, que tão audaciosamente oferecera um acordo, temiam. Por um momento, ela teve um pressentimento, um pressentimento como há muito não tinha. Teve a visão de um menino de olhos negros e um sorriso de demônio. Quando ele lhe sorriu, Eudoxia teve medo. A líder dos Fiannas soltou um ganido baixo de terror. Deu um passo para trás, ainda perturbada com as visões. Mas seu olhar foi se serenando aos poucos. Melcchio ainda aguardava, apreensivo e julgando-se um tolo por ter ido até ali.
A líder dos Garous tirou de suas roupas uma flauta prateada, com alguns sinos e penas amarrados. Ela a levantou e começou a tocar, uma melodia baixa, mas igualmente forte, que era levada pelo vento a todos os cantos de Florença.
O jovem Flagelo abaixou o machado, deixando que a lâmina tocasse o chão. O Príncipe sentiu sua mente se esvaziando por completo. E a loba que uivava acima dos Elísios correu para perto de Eudoxia.
Foram apenas algumas notas até que um Crinos furioso saltasse para fora do teatro semi-destruído. Ele saltou de uma vez só até o lado de Eudoxia, com um rosnado terrível de fúria e desaprovação. Os olhos do Príncipe observaram a criatura dos pés à cabeça. Ele deveria ter quase três vezes a estatura da Garou com a flauta. Era enorme, maior que todos os Garous que Melcchio havia visto em mais de mil anos. As garras expostas reluziam de sangue e uma luz sobrenatural. Essa criatura, facilmente identificada como sendo o real líder, rosnava para a mulher, Eudoxia. Melcchio era incapaz de decifrar suas palavras entre os rosnados, e sua mera presença fazia com que se sentisse acuado.
_ “Um predador...” – o Príncipe pensou – “A presença de um predador. Nosso predador.”
_ Devemos voltar, Avicus. – era Garou tentava interceder, mas o macho era só fúria e desaprovação. Foi então que ele direcionou um olhar vermelho para a figura do Príncipe, a poucos metros deles. Avicus deu um passo em sua direção, mostrando as presas. Foi seguro pelo braço por Eudoxia:
_ Avicus! Temos de voltar! Agora!
A loba menor havia se colocado entre o líder e a figura do Príncipe. Avicus levantara a Klaive no ar e dera um uivo contra Eudoxia, que já tinha um tamanho quase igual ao seu, as presas também visíveis.
_ Eu vi, Avicus! Eu vi o demônio de Sarah! Temos de deixá-los! Mate-os agora e essa maldição será nossa! Ela se voltará contra nós!
Avicus ainda rosnava, mas abaixou as armas. Deixou que a tempestade fria lhe acalmasse, enquanto seu tamanho diminuía um pouco. Ele olhou novamente para o Príncipe, ainda com as grandes presas e as garras mais do que visíveis. Melcchio sentiu como se seu coração pudesse sair-lhe pela boca naquele instante. Estava paralisado. Avicus voltou os olhos para Eudoxia, ainda com fúria e ainda descontente em ter de abandonar a batalha indubitavelmente ganha.
_ Melhor que tenha mesmo certeza da serventia desses vermes! – ele disse entre dentes. Passou pela loba, que lhe deu caminho, e correu passando a meio metro do Príncipe. Já na rua, transformado em um majestoso lobo de pêlos avermelhados, deu um uivo convocando a Matilha.
Eudoxia e Sarah juntaram-se à ele, bem como muitos depois.
E os Fiannas retornaram para as montanhas, bem como a tempestade de gelo e sangue que trouxeram.
Ao menos, foi o que pareceu...
O Príncipe de Florença e um jovem loiro, seu Flagelo, seguiam apressados para o teatro que servia de fachada aos Elísios. De repente, o jovem pára e pega na palma da mão uma peça delicadíssima que caíra dos céus. Ele observa-a confuso:
_ Um cristal de gelo...?!
_ Um cristal de gelo em Florença... – responde o Príncipe, visivelmente ficando preocupado.
Os dois se entreolham por um breve instante, quando o número daqueles cristais aumenta rapidamente, e se põem a correr. O Elísio estava próximo e, quando saem da ruela escura em que estavam e dão com a rua aberta e ampla em que se localizava o teatro, o Príncipe estaca com uma expressão de assombro. O jovem loiro compartilha de seu espanto, quando repara, sobre o telhado maior de uma catedral em estilo clássico, na figura imponente de majestosa beleza. Do alto em que estava, uma mulher de porte e longos cabelos acastanhados parecia controlar os ventos e a geada. De braços abertos, ela falava com o Vento do Norte e castigava toda a cidade. O Príncipe sentia os cristais cortarem-lhe o rosto, porém ainda estava boquiaberto com aquela presença.
_ Senhora da Tempestade...! – ele sussurra, os olhos arregalados.
Protegendo o rosto com um braço, o jovem loiro pergunta:
_ Ela é um dos Garous! Sua Alteza a conhece?!? I
gnorando os ventos, Raphael dá os primeiros passos em direção à catedral onde está a Garou. Seus olhos ainda não têm certeza do que vêem:
_ Sempre acreditei que ela não fosse mais do que uma lenda...! Estamos realmente com problemas se não o for...
O jovem loiro fica ainda mais apreensivo, não faz idéia de que seu Monarca pretende aproximando-se daquela maneira descuidada e inoportuna.
_ O que vai fazer!? Vossa Alteza! - ele avança em direção ao Príncipe, determinado a detê-lo. Mas o Príncipe é de longe mais rápido que o jovem e, sem que este seja capaz de perceber seus movimentos, Raphael já se encontrava uma sacada abaixo da grande Garou.
Raphael não era um homem de armas. A espada em sua cintura era um mero ornamento de honraria, suas habilidades de espadachim foram adquiridas por fetiche e capricho. Ela sabia exatamente o que fazer no trono, com o cetro na mão, mas não era nem de longe um guerreiro valoroso. E era exatamente nessas desvantagens que ele pensava enquanto dirigia sua voz para aquela mulher.
_ Senhora dos Ventos! Senhora, senhora líder dos Garous! – a voz do Príncipe sai abafada e é carregada para longe pelos fortes ventos. O manto vermelho, já encharcado e sendo puxado pelos ventos furiosos, faz com que tenha de manter-se firme para assegurar seu equilíbrio. A tempestade torna-se a cada instante mais violenta, mas Eudoxia consegue ouvi-lo e lhe direciona o olhar.
_ Aplaque sua ira, Senhora da Tempestade! Não quero lutar contra você! Leve seus filhotes de volta para as montanhas e eu deterei os meus! Não quebre os séculos de nossa paz! Eu lhe peço!
Eudoxia permaneceu segundo em um silêncio atônito, depois dos quais sua risada completa encheu os ares.
_ Admito sua coragem de líder por vir até aqui interceder pelos seus. Mas suas palavras são uma piada estúpida! Não podem estar falando sério... Ou então é completamente ingênuo! Vocês são uma mácula sobre a face de Gaia. Sua raça merece ser massacrada! Meus filhos merecem ser vingados!
O Príncipe via que sua investida talvez não obtivesse sucesso. Sabia que poderia fazer frente aos Garous se “eles” intervissem, porém, pensava em como resolver aquilo sem que tanto se tornasse necessário.
_ Aqueles que vocês atacam, aqueles que estão sob a minha regência, nada têm a ver com sua perda, posso lhe assegurar isso! O sangue de seus filhos já foi cobrado em sete vezes! Seus filhos já foram vingados!
Um sorriso de escárnio passou pelos lábios da mulher e ela riu com desdém:
_ Palavras de um covarde. É o fim da linha para vocês. Essa é uma batalha que não podem vencer. E, para seu desespero, também já não podem fugir!
Raphael Melcchio sabia que aquelas palavras carregavam a sua verdade. Eles estavam cercados. Mesmo que ele próprio intervisse, mais de 80% de toda a sociedade vampírica seria facilmente eliminada. Eudoxia não cederia por palavras de um vampiro. A aura de apreensão e ansiedade que rondava a figura do Príncipe, então, sumiu simplesmente. As roupas estavam molhadas e pesadas no momento em que ele abaixou a cabeça e fechou os olhos. Quando voltou a erguer o olhar, tinha o porte da coroa e da majestade. O rosto frio de menino era impassível, mas sua voz, autoritária, carregava o som de milênios.
_ Há males maiores que temos que derrotar. Tire seus filhotes daqui. Esse mau é um problema nosso, mas ele se estenderá até vocês. Vão embora agora, para poderem lutar depois. É a minha última palavra.

O azul glacial nos olhos do Príncipe era tão gélido quando aquela geada, e tão impiedoso quanto o coração da própria Eudoxia. Ele também não recuaria. Eudoxia sabia de que mal ele falava; sim, as visões que atormentavam Sarah. A líder chegou a abrir os lábios para uma resposta cínica e honrada, porém, nesse instante, um uivo de terror chamou-lhe a atenção. Sua atenção se voltou para a direção do som e, no telhado do que restava dos Elísios, ela viu um grande lobo castanho. Sarah, sua filha, aquela que herdara o seu dom das visões, havia algo que a perturbava. Seus olhos verdes lupinos pareciam não ter consciência do mundo que os cercavam enquanto a grande loba uivava para a lua vermelha no céu. Eudoxia sondou os pensamentos da sacerdotisa, e a visão que compartilharam era de morte e ruína. Houve um momento de terror no coração gelado de Eudoxia. Havia um grande mau que se aproximava, e que agora ela sabia que isso estava ligado aos Lambedores, como a Matilha suspeitara.
Ela voltou sua atenção ao Príncipe. Na altura em que estava, ela olhou para longe e, pela primeira vez, teve consciência de outras quatro presenças, espalhadas aqui e ali, e uma visão acompanhava cada uma delas. Uma das criaturas tinha uma aura de fogo imensa que não era nem de longe afetada pela geada, enquanto que outra exercia uma atração irresistível; outra tinha uma loucura contagiosa para quem ousasse fitar seus olhos diretamente, e a outra tinha uma presença de forças magistral. Eudoxia teve uma clarividência rápida na qual seus filhos perdiam o senso para uma loucura total; viu o chão se abrir rumo ao grande centro da terra, e seus filhotes se jogarem dentro dele como que encantados pelo fogo que ardia naqueles confins. Viu que seu amado Avicus jogava-se lá também e, em sua visão, ela não fora capaz de detê-lo.
Aqueles eram seres antigos, ela sabia. Talvez, tão antigos quando o mal comum que ela e aquele monarca, que tão audaciosamente oferecera um acordo, temiam. Por um momento, ela teve um pressentimento, um pressentimento como há muito não tinha. Teve a visão de um menino de olhos negros e um sorriso de demônio. Quando ele lhe sorriu, Eudoxia teve medo. A líder dos Fiannas soltou um ganido baixo de terror. Deu um passo para trás, ainda perturbada com as visões. Mas seu olhar foi se serenando aos poucos. Melcchio ainda aguardava, apreensivo e julgando-se um tolo por ter ido até ali.
A líder dos Garous tirou de suas roupas uma flauta prateada, com alguns sinos e penas amarrados. Ela a levantou e começou a tocar, uma melodia baixa, mas igualmente forte, que era levada pelo vento a todos os cantos de Florença.
O jovem Flagelo abaixou o machado, deixando que a lâmina tocasse o chão. O Príncipe sentiu sua mente se esvaziando por completo. E a loba que uivava acima dos Elísios correu para perto de Eudoxia.
Foram apenas algumas notas até que um Crinos furioso saltasse para fora do teatro semi-destruído. Ele saltou de uma vez só até o lado de Eudoxia, com um rosnado terrível de fúria e desaprovação. Os olhos do Príncipe observaram a criatura dos pés à cabeça. Ele deveria ter quase três vezes a estatura da Garou com a flauta. Era enorme, maior que todos os Garous que Melcchio havia visto em mais de mil anos. As garras expostas reluziam de sangue e uma luz sobrenatural. Essa criatura, facilmente identificada como sendo o real líder, rosnava para a mulher, Eudoxia. Melcchio era incapaz de decifrar suas palavras entre os rosnados, e sua mera presença fazia com que se sentisse acuado.
_ “Um predador...” – o Príncipe pensou – “A presença de um predador. Nosso predador.”
_ Devemos voltar, Avicus. – era Garou tentava interceder, mas o macho era só fúria e desaprovação. Foi então que ele direcionou um olhar vermelho para a figura do Príncipe, a poucos metros deles. Avicus deu um passo em sua direção, mostrando as presas. Foi seguro pelo braço por Eudoxia:
_ Avicus! Temos de voltar! Agora!
A loba menor havia se colocado entre o líder e a figura do Príncipe. Avicus levantara a Klaive no ar e dera um uivo contra Eudoxia, que já tinha um tamanho quase igual ao seu, as presas também visíveis.
_ Eu vi, Avicus! Eu vi o demônio de Sarah! Temos de deixá-los! Mate-os agora e essa maldição será nossa! Ela se voltará contra nós!
Avicus ainda rosnava, mas abaixou as armas. Deixou que a tempestade fria lhe acalmasse, enquanto seu tamanho diminuía um pouco. Ele olhou novamente para o Príncipe, ainda com as grandes presas e as garras mais do que visíveis. Melcchio sentiu como se seu coração pudesse sair-lhe pela boca naquele instante. Estava paralisado. Avicus voltou os olhos para Eudoxia, ainda com fúria e ainda descontente em ter de abandonar a batalha indubitavelmente ganha.
_ Melhor que tenha mesmo certeza da serventia desses vermes! – ele disse entre dentes. Passou pela loba, que lhe deu caminho, e correu passando a meio metro do Príncipe. Já na rua, transformado em um majestoso lobo de pêlos avermelhados, deu um uivo convocando a Matilha.
Eudoxia e Sarah juntaram-se à ele, bem como muitos depois.
E os Fiannas retornaram para as montanhas, bem como a tempestade de gelo e sangue que trouxeram.
Ao menos, foi o que pareceu...
Nenhum comentário:
Postar um comentário