27 maio, 2006

Retorno da Longa Noite - parte V

21h11 – Palazzo Real da Camarilla ~Sala do Trono


De leste a oeste, em todas as terras desse reino, sempre ouvi o Teu nome... Sempre sussurrado. Como se fosses Tu um deus de mármore.




Melcchio voltou os olhos sérios e indiferentes para a criatura. O cavaleiro entrou calmamente, soltando a abotoadura que lhe prendia a capa aos ombros e jogando-a para o lado. Tirou a cartola enquanto erguia os olhos que se prenderam instantaneamente à figura do Príncipe, como se atraídos por ela.

_ Essa será tua noite de honra, Monarca de Florença. Tu és o último carrasco, e eu vim para cobrar o teu sangue, como jurei que o faria.

O jovem havia retirado as duas luvas negras, e, quando parou, as atirava aos pés de Sua Alteza. O Príncipe encarou o gesto como um fantasma, estava sério e dava àquilo um ar de importância. “_ Um duelo. Ele quer um duelo”.

Diante do gesto, o Flagelo, que até então havia se mantido às costas do Príncipe, deu um passo à frente. Olhou para o jovem intruso com ar de desafio, exibindo o grande machado acastanhado e as espadas na cintura.

Melcchio reparou um brilho de surpresa nos olhos de seu vingador, que parecia, até então, não ter reparado na presença daquele guardião. Mas a resposta do intruso foi clara quando desembainhou o florete e o apontou em direção ao machado.

Raphael Melcchio se adiantou. Tocou o braço direito de seu Guardião, forçando-o a abaixar a arma. O rapaz loiro o encarou, sem entender, enquanto Melcchio balançou-lhe a cabeça.

_ Sei que você me defenderia com a vida se necessário, mas não pode lutar contra ele.


O jovem pareceu não entender; suas armas eram enorme e ele as empunhava com destra habilidade e maestria. Então o Príncipe o olhou de soslaio, entregando o que já sabia:

_ Foi ele, não foi? É a ele que você deve ‘isso’ que é agora. Você não seria capaz de derrotá-lo, tem uma dívida com ele. Mas ele não hesitará em lhe tirar a vida se você se intrometer.

Aquele jovem celta parecia confuso enquanto olhou para o adversário do Príncipe, que em nada alterara sua postura: mantinha a declaração de ofensa, o florete em riste e o olhar cheio de ódio, e parecia aguardar em silêncio.

_ Vá embora daqui. – disse o Príncipe desembainhando o próprio florete, mas ainda mantendo-o baixo. – Você pagou um preço muito alto para ter sua própria vingança, e o seu tempo já está terminando.


O Flagelo deu um passo para trás, assustado com o que seu príncipe demonstrava saber; Melcchio lhe sorriu de volta.

_ Você me serviu bem, e eu vou me lembrar disso. Agora saia daqui e vá atrás do inimigo que você já encontrou. Está livre do compromisso que tinha comigo. O que está esperando? Esse duelo é meu, não deixarei que o lute em meu lugar.

Ambos se olharam por um instante, até que o Príncipe lhe virou o rosto para encarar o verdadeiro oponente.

_ Adeus, Gabriel. Nos veremos em uma próxima existência.

O Guardião do Príncipe pareceu entender. Voltou a guardar o machado nas costas, e começou a caminhar em direção à saída. O jovem da cartola não se mexeu quando o loiro passou por ele e tomou o longo corredor de saída.

Raphael esperou uns instantes. Então sacou também o rebuscado punhal italiano e se adiantou, abrindo espaço e levantando o florete no ar.

_ Muito bem. Chegou a nossa hora, Lorde Lawrence Gray.

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