01 maio, 2006

Retorno da Longa Noite - parte IV

08 de janeiro - Ano 2201
Uma antiga construção no subúrbio de Florença


Permanecemos em meu quarto por um bom tempo, Sophia e eu, conversando sobre o que havia se passado nesses trezentos anos em que não nos víamos. Saímos para o corredor de braços dados, e eu sentia-me francamente disposto a muitas coisas, e minha disposição ainda seria acrescida por outras relevâncias. Todo o caminho do estreito corredor estava manchado com um rastro de sangue que levava direto para o último quarto.

_ Uma de suas experiências? – perguntou minha acompanhante quando paramos e ela reparara no chão.

_ Soph, não sou nem de longe tão estabanado. Isso deve ser coisa dos meninos.

Realmente, naquele momento, enquanto seguíamos a linha vermelha generosamente marcada, não me dei conta do quão significante poderia ser aquilo. Na minha ignorância e bom humor pela presença de Sophia, pensava apenas em dar uma bronca controlada em Ludwig e Byron para serem menos bagunceiros com suas brincadeiras.

Chegamos até o quarto no fim do corredor. Estava completamente escuro, mas eu sentia a presença de Ludwig ali.

_ Ora, Ludwig! Não seja tão mal-educado. Temos visitas. – disse eu em tom lúdico, ignorando completamente a atmosfera mais do que repulsiva, criando uma pequena chama dourada para iluminar o cômodo.

A visão me calou na mesma hora. Ludwig estava acabrunhado em um canto. Ao seu redor haviam inúmeras criaturas de sombras, despertas como eu nunca havia visto. Dançavam ao redor dele, repudiadas pela luz que eu trazia. Eram demônios, pesadelos e outros seres em que eu jamais pusera os olhos. Eram ofensivas certamente. Isso era claro e óbvio. Tive, em uma fração de raciocínio, que a única coisa que impediam aqueles seres de nos fazer em pedaços era a vontade de Ludwig; eu era incapaz de calcular a força que poderiam ter. Ou, pior: seus poderes.

Apenas depois de me surpreender com as criaturas foi que voltei os olhos para Ludwig. Somente então reparei a que ele se agarrava. Só então reparei no corpo decapitado apoiado em seu peito, no sangue que cobria quase todo o chão do quarto. O olhar vago de Ludwig deixou o reflexo de minhas chamas no sangue, e se voltou em minha direção, me encarando:

_ Não ouse tentar tirá-lo de mim.

Tirar quem, Ludwig? Em um lampejo reparei no corpo inerte: eram as roupas de Byron, seu sobretudo preferido. Deixei um gemido baixo escapar sem querer. Como estava lento meu raciocínio aquela noite! Sophia me puxava levemente pelo braço. Os olhos de Ludwig eram intimidadores, até mesmo para nós dois. Era ódio que eu via queimar neles, como um fogo negro e demoníaco. Todo o carisma de Ludwig havia se esvaído junto ao sangue vermelho no chão.

Deixei minhas chamas perderem-se no ar, devolvendo Ludwig à sua escuridão reclusa. Aceitei o conselho mudo de Sophia para que nos retirássemos dali.

_ E agora? – ela me perguntou quando já estávamos fora da Capela.

_ Para o Black Harlequim. Tu não se recusarás a dormir ao meu lado hoje.

E aquilo não era uma pergunta.


2 comentários:

Anônimo disse...

Rapaz, devo ganhar na ficha mais isso:
(outro)Inimigo: Ludwig
(outro)Caçado
Futuro Negro
vamo v oq mais...
Assombrado ou algo assim...
hmmm

ah sim
To fudido
ou melhor, Miguel

Anônimo disse...

Sssssssooooohhhhhh