07 de janeiro - Ano 201 d.v.C.
"Nos dias que se seguiram, permaneci em um estado agita de meia-vivacidade, de semi-consciência. Às vezes, eu pensava sobre meus deveres e cerimônias, sobre por quê nenhum dos outros monge vinha me ver. Minhas noites foram preenchidas com a face maliciosa de meu torturador. Então, vieram os pesadelos. Mesas surreais, objetos de torturas, em que aquele menino pulava sobre mim, empurrando, espetando, rasgando e cortando. Certas cenas levavam-me ao limite da sanidade mortal; eu vejo monstros disformes e demônios de chifres... eles se agacham em meu rosto, forçando o sangue salgado de larvas e outras criaturas disformes para dentro de minha boca, obrigando-me a fechá-la em seguida, engolindo tudo aquilo.
Os dias – se é que as noites se diferenciam dos dias nessas trevas perpétuas em que me encontro – são piores. Em um momento, quando o sono abandonou-me, eu, despido, usado e machucado, estive primorosamente ciente de cada sensação que meus nervos torturados me traziam. Minha língua, que está cortada, ressecada e inchada por incontáveis ferroadas, é a única coisa que consigo mover. Há abelhas pousando em meus olhos e não há nada que eu possa fazer para afastá-las além de piscá-los. Elas são minha companhia constante neste tormento, um zumbido excitado contra as fracas batidas do meu coração. Criaturas estranhas e vermes esbranquiçados rastejam e escorregam por meu corpo flagelado, e uma “coisa’ indescritível se move dentro de meu abdômen com uma frígida deliberação.
E agora eu ouço que alguém entra pela porta da frente. É ele, eu sei. Só ele vem até aqui. Eu tento me mover, tento reagir e sair daqui de qualquer forma, a qualquer custo. Mas nada em meu corpo me responde; meus quadris estão quebrados, minhas pernas ensangüentadas. Há moscas e insetos por toda a parte. Eu vejo quando a porta do quarto se abre e sua silhueta aparece, os olhos brilhando com um vermelho feral. Quero gritar. Sei que ele virá para me torturar mais, como o tem feito todas as noites; sei que verei seus demônios novamente e o seu sorriso calmo e infantil enquanto provo a mais louca quimera da agonia. Sei que irá macular meu corpo de todas as formas e me manterá vivo, pois sabe exatamente o que faz.
Sei de tudo isso. Mas, apesar de não haver nada a me prender, não sou capaz de me livrar daquilo. Isso é muito pior do que a idéia que eu tinha de Inferno.
E ele dá o primeiro passo em minha direção..."
"Nos dias que se seguiram, permaneci em um estado agita de meia-vivacidade, de semi-consciência. Às vezes, eu pensava sobre meus deveres e cerimônias, sobre por quê nenhum dos outros monge vinha me ver. Minhas noites foram preenchidas com a face maliciosa de meu torturador. Então, vieram os pesadelos. Mesas surreais, objetos de torturas, em que aquele menino pulava sobre mim, empurrando, espetando, rasgando e cortando. Certas cenas levavam-me ao limite da sanidade mortal; eu vejo monstros disformes e demônios de chifres... eles se agacham em meu rosto, forçando o sangue salgado de larvas e outras criaturas disformes para dentro de minha boca, obrigando-me a fechá-la em seguida, engolindo tudo aquilo.
Os dias – se é que as noites se diferenciam dos dias nessas trevas perpétuas em que me encontro – são piores. Em um momento, quando o sono abandonou-me, eu, despido, usado e machucado, estive primorosamente ciente de cada sensação que meus nervos torturados me traziam. Minha língua, que está cortada, ressecada e inchada por incontáveis ferroadas, é a única coisa que consigo mover. Há abelhas pousando em meus olhos e não há nada que eu possa fazer para afastá-las além de piscá-los. Elas são minha companhia constante neste tormento, um zumbido excitado contra as fracas batidas do meu coração. Criaturas estranhas e vermes esbranquiçados rastejam e escorregam por meu corpo flagelado, e uma “coisa’ indescritível se move dentro de meu abdômen com uma frígida deliberação.
E agora eu ouço que alguém entra pela porta da frente. É ele, eu sei. Só ele vem até aqui. Eu tento me mover, tento reagir e sair daqui de qualquer forma, a qualquer custo. Mas nada em meu corpo me responde; meus quadris estão quebrados, minhas pernas ensangüentadas. Há moscas e insetos por toda a parte. Eu vejo quando a porta do quarto se abre e sua silhueta aparece, os olhos brilhando com um vermelho feral. Quero gritar. Sei que ele virá para me torturar mais, como o tem feito todas as noites; sei que verei seus demônios novamente e o seu sorriso calmo e infantil enquanto provo a mais louca quimera da agonia. Sei que irá macular meu corpo de todas as formas e me manterá vivo, pois sabe exatamente o que faz.
Sei de tudo isso. Mas, apesar de não haver nada a me prender, não sou capaz de me livrar daquilo. Isso é muito pior do que a idéia que eu tinha de Inferno.
E ele dá o primeiro passo em minha direção..."
Das visões de Abade Mateu
Um comentário:
Sabe que isso até que é uma boa idéia, non? Sun... Vou scanear umas coisas para postar. Eu até poderia ilustra a crônica toda, mas um artista sozinho non dá conta do recado, neh? ¬¬ Tu bem que podia me dar uma força, non acha?
Mas é claro que posto os desenhos para ti, meu tourinho...
Bacchio mejan.
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