26 abril, 2006

Retorno da Longa Noite - parte 2 b

Capela Tremere
Florença, Itália


É meia-noite. Os sinos do Duommo tocam ao longe. A noite cresce e entrega-se a si mesma; uma atmosfera eterna de ausência e silêncio.

Em um quarto subterrâneo, o corpo pálido de um jovem está jogado sobre a cama. Suas mãos estão pousadas displicentemente sobre o colo, como se aquele gesto guardasse algum segredo; mas não guarda. Seu olhar nostálgico perde-se na parede vazia, buscando lembranças e fantasmas. Ele não pensa em nada, nem sente vontade de nada. Nesse momento, está entregue a uma batalha perdida contra seus sonhos e seus desencantos.

Ele escuta, meticuloso, a pulsação do próprio coração. Mas ele não gosta desse ruído: essa perfeição da sua certeza o constrange; tudo é demasiado claro. O coração que reconhece como seu é então o coração da noite.

As chamas no candelabro ao lado tremulam, e uma sombra palpável se esgueira pelo vão de baixo da porta. Uma figura esguia e feminina se mostra, emergindo das sombras, fazendo-se daquelas sombras, com uma presença antiga e passada, como o roçar das asas de um fantasma. O jovem sente-se triste por ter sido surpreendido naquela forma derrotada, longe se sua costumeira magnitude, um pobre personagem deitado sobre as próprias cinzas. Mas não diz nada. Apenas encara sua dama soturna.

A mulher sorri discretamente, nada mais do que uma menção e, se aproximando, seus lábios tocam de leve o rosto do jovem, e ele se adianta:

_ Por que demorastes tanto?

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