24 abril, 2006

Retorno da Longa Noite - parte I b

A figura ligeira de um jovem majestosamente trajado vira apressada em uma ruela sombria. O brilho sinistro de uma segunda lua, vermelha, banha tudo com um ar sobrenatural de desespero e ansiedade. A simples presença daquela estrela deixava o jovem monarca impaciente, embora ele não conseguisse explicar a si mesmo os motivos que o levavam a temer cada sombra. A verdade é que não haviam motivos.

O celular vibra no bolso direito da calça de camurça negra. O jovem o apanha, impassível. Do outro lado da linha, uma voz feminina já conhecida lhe informa sobre a situação atual dos Elísios.

_ Não precisa me ligar para passar informações a que já tenho acesso por mim mesmo – ele reponde, ríspido e mau-humorado. – E o que pretende fazer? Derrubar todos eles? – ele provoca desdenhoso.

A voz ainda prossegue e ele, sem paciência para meias palavras e charadas verbais, anuncia:

_ Faça seu trabalho. Eu já estou chegando.

Ele guarda o celular no mesmo bolso e apressa o passo. A situação chegara a um ponto crítico que ele não esperava. Mas ele confiava em seu próprio poder para contê-la. Apenas não esperava que seria realmente necessário fazê-lo.

De uma das sacadas daquela ruela mal iluminada, salta uma figura em trajes claros. O jovem, que saltara bem ao lado do Príncipe, põe-se a caminhar a seu lado, silenciosamente. Com ares de forasteiro e poucos amigos, o acompanhante guarda um par de óculos escuros no sobretudo claro. Ele está desarmado, exceto pelo machado de metal acastanhado que leva declaradamente na mão.

Nenhum dos dois diz coisa alguma. Apenas seguem para o destino comum.

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