24 maio, 2006

Retorno da Longa Noite - parte V

20h37 - Leste de Florença
Black Harlequim ~ nocturnal club


Melodia vaga
para ti se eleva
e,chorando, leva
o teu coração
já de dor exausto,
e chorando o afaga.

Os teus olhos, Fausto,
não mais chorarão.




Calabar entrara no recinto rápido e visivelmente irritado. Fizera um gesto displicente aos empregados que tentaram detê-lo com recados. Fora diretamente rumo aos aposentos, tomando o corredor mais reservado.

_ Lawrence! Lawrence, sua bruxa dos infernos! Onde está você?! É hora de acordar! Os novos Elísios foram atacados de novo; quero que venha comigo exigir alguma atitude daquele Principezinho de merda! Lawrence!

O jovem ruivo abria uma porta em seguida da outra. Não havia ninguém no quarto de seu companheiro, fato que o intrigou, uma vez que seu amigo não tinha costume de despertar antes das oito da noite. Enfim, ele chegou até seu próprio aposento, o último do corredor: também vazio.

_ Inferno... Gostaria que me avisasse quando fosse se ausentar assim! – Calabar segue resmungando, aproveitando para trocar suas vestes para algo mais apropriado à visita que pretendia fazer.

_ Vermelho deve impressionar... ^^ He he! Ah, mama... Se a senhora pudesse me ver agora...!

Ele troca a camisa de casimira despreocupadamente; esquecera-se inteiramente (ao menos naqueles instantes), do amigo ou do por quê visitaria o Príncipe. Tomou o frasco de almíscar apressado, parando em frente ao espelho oval da penteadeira para reparar em todo seu conjunto. Olhou cantarolando para o espelho, para uma imagem que existia apenas em sua mente. Então, procurando não se confrontar com aquela realidade, forçou-se a desviar os olhos do espelho vazio.

Foi então que um pequeno envelope preto lhe chamou a atenção. A carta tinha o selo dourado que Lawrence costumava usar, e fora deixado propositalmente apoiado no vaso de rosas brancas.

Calabar encarou a carta por um instante, sem ousar tocar nela. Pensou em por que razão as rosas vermelhas de que tanto gostava haviam sido trocadas, sem sua permissão, por aquelas brancas tão sem-graça. Depois, quebrou o lacre e pôs-se a ler as parcas linhas daquela caligrafia antiquada em tinta vermelha.


“ Querido Dorian.


Depois que ler essas linhas, temo que passe a saber de coisas a meu respeito que virão a desagradá-lo ou, no pior, entristecê-lo. Sinto ter sido forçado a guardar esses segredos de ti e espero que, depois que tua raiva se esvaecer, tenhas sentimentos capazes de me perdoar.

Nessa noite, eu derramarei o sangue do teu Príncipe. Cumprirei as minhas juras. Que isso não me leve para longe de ti, e que a minha criança também possa, onde quer que esteja, manter-me em seu coração.

Dentro do cofre de meu quarto tu encontrarás as escrituras legais do Black Harlequim. Tomei a liberdade de lavrar os documentos em teu nome. A senha do cofre é o dia em que nos conhecemos (espero que se lembre...). É tudo teu agora. Continue as tuas apresentações, Dorian. Tuas danças, teus teatros. A noite não é nada sem a tua presença.

Estarei partindo ao amanhecer para a Romênia. Sophia irá comigo. Conto com o teu perdão novamente, mas não lhe deixarei maiores informações de para onde irei.

Sê forte e permaneças, meu querubim; para que um dia eu possa encontrá-lo novamente.


Eternamente teu,

L.G.”

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